A Fifa, o Brasil e seus aeroportos

Nicias Ribeiro
Quando o Brasil foi escolhido pela Fifa para sediar a Copa do Mundo de 2014, é óbvio que os brasileiros vibraram com aquela decisão e até mesmo os que não eram tão apaixonados pelo futebol festejaram aquela conquista, porque todos entendiam que esse megaevento era a grande oportunidade de se divulgar o Brasil no exterior, e, também, de se fazer grandes investimentos em infraestrutura no País, especialmente nas cidades onde os jogos fossem realizados, oportunidade essa que, infelizmente, Belém deixou de aproveitar, quando perdeu para Manaus a condição de subsede dos jogos da Copa.
Mas, pelo que tudo indica, o governo ficou apenas na euforia da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo, sem se preocupar com as obras de infraestrutura para a realização desse megaevento, e, principalmente, com o tempo de sua execução, uma vez que a FIFA exige que tudo esteja pronto, ou em vias de conclusão, até um ano antes do início da Copa. E isso ficou tão evidente que levou o presidente da Fifa na semana passada, a registrar, publicamente, as suas preocupações com os aeroportos brasileiros, especialmente os do Rio e S.Paulo que são os maiores do país e que, naturalmente, recebem o maior número de voos internacionais, bem como em relação ao atraso das obras de alguns estádios, notadamente os de S.Paulo e Natal que, ainda, estão em fase de projeto, além de outras ob ras de infraestrutura na área de transporte urbano e hotelaria.
É claro que as preocupações do presidente da Fifa, externadas através da imprensa internacional, é o tipo de propaganda que não ajuda o Brasil no exterior. Contudo, a preocupação da Fifa em relação aos nossos aeroportos é só para 2014, enquanto que a dos brasileiros vem de há muito tempo e aumentou, mais ainda, quando a imprensa nacional, dias atrás, noticiou o risco de um novo apagão aéreo nos nossos aeroportos, agora, no período das festas do Natal e do Ano Novo, o que obrigou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a estabelecer normas proibindo a venda de passagens aéreas além da capacidade dos aviões, ameaçando com punição, inclusive, a empresa que desobedecer a esta orientação.
É evidente que essa norma da Anac é no mínimo esdrúxula, até porque, por óbvio, nenhuma companhia aérea deveria vender passagens além do número de assentos dos aviões, o que nos leva a crer que por trás de toda essa crise do setor e que tem sido responsável pelos apagões aéreos, é que tanto a Infraero como a Anac não funcionam e não cumprem com as suas prerrogativas, até porque ambas não têm consciência do tamanho do Brasil, seja em relação ao seu território, seja em relação a sua população. Aliás, como é possível um país com a dimensão territorial do Brasil e com uma população de quase 200 milhões de habitantes, ter apenas duas grandes companhias aéreas? E algumas poucas regionais?
Será que a Anac não sabe, ainda, que os aviões que temos são insuficientes para etender a demanda de transporte de uma população sempre crescente e num país de dimensões continentais como o nosso? Como é possível uma passagem em avião turbo-hélice de Belém a Altamira ter um custo de até R$900,00? Tudo porque o avião é pequeno e o número de assentos não dá para quem quer. Será que a Anac sabe disso? E se sabe, porque não toma nenhuma providência? Será que a Anac não sabe que Altamira é uma cidade-polo e que essa rota atende não só os passageiros locais, mas também os dos sete municípios do seu entorno? E se sabe, porque não faz com que Altamira seja atendida por aviões maiores?
E a Infraero, por sua vez, o que tem a dizer das estações de passageiros dos aeroportos de Altamira e de Santarém, que não suportam o número que, mesmo pagando altas taxas de embarque, não desfrutam de quase nenhum conforto? E quando serão ampliadas? Será antes, durante ou depois da Copa de 2014? Será que a Infraero sabe, por acaso, que as obras de Belo Monte terão início em abril de 2011?
Não é à toa o que o presidente da Fifa reclamou lá da Suiça. E esperemos que a sua fala seja levada na devida conta, não só por causa da Copa de 2014, mas por causa do Brasil, que tem uma população sempre crescente e é grande por natureza.
Feliz Natal a todos e sem apagão aéreo. 

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