CNS divulga nota sobre assassinato de casal

O Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) divulgou hoje (7) uma nota oficial sobre o assassinato dos extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo. O documento será apresentado nesta terça na Câmara dos Deputados, em Brasília, às 16h. Ainda hoje, representantes do CNS irão se reunir com a Ministra Maria do Rosário (Secretaria dos Direitos Humanos), além representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para discutir medidas visando coibir a ocorrência de novos crimes.
Segue abaixo a nota:
Os povos da floresta pedem socorro! Gritamos às Instuições, à sociedade brasileira, à imprensa, às nações do planeta. Basta! A morte dos companheiros José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, Eremilton Pereira dos Santos e Adelino Ramos trazem de volta a sensação e o estampido dos tiros que mataram Chico Mendes, os trabalhadores do Eldorado do Carajás, a irmã Doroty Stang e tantos outros que deram a vida pela floresta. 
Não podemos admitir que continuem matando seres humanos por defenderem suas próprias vidas, suas idéias e seus ideais. O lucro não pode se sobrepor à dignidade humana e a posse da terra precisa atender à falta que ela faz para milhares de trabalhadores e trabalhadoras excluídos pelos latifúndio. Precisamos encontrar os culpados, pois a impunidade não pode ser uma licença para matar.
E é bem mais que uma questão de culpa, é uma questão de responsabilidade. O quanto toda a sociedade brasileira é responsável? Em que medida contribuímos para o aviltamento dos nosso direitos mais fundamentais? De que modos ajudamos na engrenagem de um sistema que mata milhares de pessoas para outras comerem carne de boi? Um sistema que derrama sangue humano quando não consegue derrubar árvores. 
Culpados nós já sabemos que existem, apesar de não sabermos ainda quem são as pessoas, no caso dos últimos assassinos,  mas sabemos que eles estão no Legislativo, e vemos a Câmara dos Deputados aprovar o projeto de lei do novo Código Florestal Brasileiro, uma lei que anistia os crimes ambientais cometidos até agora no Brasil;  eles estão no Executivo, e sabemos que os órgãos de controle ambiental só vão até onde é politicamente confortável como no caso da hidrelétrica de Belo Monte; eles estão no Judiciário e vemos o exemplo da Juíza que oprime o povoado da reserva extrativista em Soure, na Ilha do Marajó, impedindo o direito constitucional de ir e vir quando fecha a porteira de sua fazenda. Uma criança recém-nascida teve febre certa noite e como não deixaram que a mãe ultrapassasse a porteira com a criança enferma. O bebê faleceu. 
Mais uma morte perdida, mais um anônimo sem vida e quantos outros nessa floresta gigantesca e cheia de gente? Essas pessoas estão morrendo por defenderem a floresta em pé, pois é de lá que tiram seu sustento. O que vale mais? A vida dessas pessoas ou o filé pendurado no açougue? A luta por defender um castanhal que alimenta e gera renda para uma comunidade inteira ou a beleza do móvel a milhas de distância dali?
O tempo é de perguntas e de muitas promessas. Quais vão ser cumpridas? Não sabemos, mas sabemos que a única coisa que não vai deixar de acontecer é a luta. Sabemos que a chama que nos acende a vida nasce junto com o sentimento de injustiça que só vai cessar quando todos os culpados forem condenados. 
A morte dos nossos companheiros jamais terá sido em vão. Seu legado será transmitido às futuras gerações, assim como os rios e às matas. Seu descanso em paz será nossa batalha diária e se estamos numa guerra nossas armas são a educação, a autonomia e a organização. Todo sangue derramado vai adubar a terra em que plantaremos as sementes da justiça fundiária, a única saída para o grave problema ambiental brasileiro.
Há quase 25 anos, quando mataram Chico Mendes, no Acre, não imaginavam que hoje seus ideais estariam mais vivo do que nunca. A força não pode parar nossa causa porque a nossa causa é a vida, e não há nada mais importante que ela. A voz que vem dos homens e mulheres da floresta jamais poderá ser calada pelo latifúndio, pois ela vem de mais de dois milhões e meio de cidadãos que a cada dia compreendem melhor o poder da organização e o fato de que sua voz é a voz do planeta que precisa continuar abrigando mais de seis bilhões de seres humanos.(Com informações da Ascom CNS)

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