Pará quer criar força especial para combater pirataria nos rios
O ataque, ocorrido no mês passado, não
teve como cenário o oceano Índico ou o Golfo de Aden, áreas de atuação de
piratas somalis, mas sim o norte do Pará. Suas vítimas, que perderam cerca de
R$ 15 mil em dinheiro, além de joias e celulares, viajavam entre Soure, maior
cidade na Ilha de Marajó, e Belém, a capital do Estado.
Para impedir ataques como esse – só no
primeiro semestre deste ano, foram registrados 18 casos semelhantes nos
arredores da Ilha de Marajó –, a polícia do Pará pretende criar uma unidade
antipirataria, que agregará policiais civis e militares, além de membros do
Corpo de Bombeiros.
Em entrevista à BBC Brasil, o
secretário de Segurança do Estado, Luiz Fernandes Rocha, afirma que o grupo
reunirá entre 70 e 80 homens e terá como função “agregar forças de todas as
instituições policiais para combater a pirataria de forma mais rápida, tornando
as ações mais coordenadas e direcionadas”.
Segundo Rocha, um projeto de lei
prevendo a criação da unidade, por ora batizada de Grupamento Fluvial, será
encaminhado à Assembleia Legislativa assim que terminar o recesso de julho. Ele
diz esperar que em até três meses o grupo, que desempenhará as funções de
policiamento ostensivo, investigação e atendimento a vítimas, possa tornar-se
efetivo.
“Mais do que baixar as ocorrências,
nossa intenção é dar tranquilidade aos moradores, mostrar que polícia vai estar
próxima deles”, afirma.
Barcos rápidos
Além da realocação de policiais e
bombeiros, o secretário conta que a criação da unidade exigirá a compra de
embarcações rápidas, para fazer frente à agilidade dos “ratos d’água”, como
define os criminosos.
Rocha diz não saber, contudo, quantos
veículos novos serão necessários, já que a secretaria deverá primeiro finalizar
um levantamento sobre quantos barcos atualmente fora de uso por problemas
técnicos poderão ser repassados à unidade.
Luiz Fernandes Rocha, secretário de
Segurança do Pará
Mais à frente, o secretário afirma que
o grupo antipirataria poderá contar também com helicópteros – segundo ele, uma
aeronave já está disponível, e há previsão de comprar outras três.
Rocha atribui a pirataria à
disseminação das drogas no Estado. “Notamos que muitos municípios pequenos e
distritos onde antes não havia casos relacionados ao consumo de drogas hoje já
enfrentam problemas. E muitos usuários recorrem ao crime para sustentar o
vício.”
Ele nega, porém, que os ataques tenham
se tornado mais frequentes, dizendo ter havido redução de 15% dos casos no
primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2010.
Ainda assim, a própria secretaria
admite que muitos casos podem não ser registrados, já que há comunidades
ribeirinhas isoladas, longe de delegacias.
Fase de testes
O delegado João Bosco Rodrigues,
diretor de Polícia Especializada e encarregado pelas ações da Polícia Civil nos
rios paraenses, diz à BBC Brasil que o novo grupamento antipirataria funcionou
em caráter experimental há um mês, quando ocorreu a Operação Carnapijó.
Segundo Rodrigues, a operação agregou
membros das polícias estaduais e da Marinha e identificou quadrilhas que atuam
nas ilhas próximas a Belém.
Ele conta que há, entre os criminosos,
grupos organizados, que detêm armamentos pesados e são provenientes de várias
regiões do Estado, mas as quadrilhas em geral são compostas por ribeirinhos,
que usam revólveres e conhecem muito bem as regiões onde atuam.
“Estamos na maior bacia hidrográfica
do mundo. Nossa geografia favorece esse tipo de ação criminosa.”
Proteção armada
Enquanto o grupo não é criado,
moradores se mobilizam contra os piratas. Um habitante de Abaetetuba, uma das
cidades mais afetadas por ataques, conta à BBC Brasil que ribeirinhos estão
comprando armas para se proteger.
João Bosco Rodrigues, diretor de
Polícia Especializada e encarregado pelas ações da Polícia Civil nos rios
paraenses
Segundo ele, que não quis ser identificado,
quatro piratas foram surpreendidos no fim de 2010 ao tentar furtar o motor de
um barco aportado. No embate, dois criminosos teriam sido mortos.
O morador conta que a mobilização dos
barqueiros ocorreu porque se tornaram frequentes, nos últimos anos, casos de
pirataria na região. Os criminosos, diz ele, costumam visar embarcações
pequenas, roubando seus motores e deixando os barqueiros à deriva. Por isso,
afirma que muitos se recusam a viajar à noite, quando o risco de ataques
aumenta.
Além das perdas materiais, os
ribeirinhos temem os métodos violentos dos piratas. “Eles agridem de graça,
atiram de graça, matam de graça.”
Também em resposta às ações, o morador
conta que muitos barcos maiores, de linhas regulares, passaram a circular com
seguranças armados à paisana entre os passageiros. (BBC Brasil)
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