Paralisação no Abelardo Santos causa transtornos

Quem procurou atendimento, na manhã de ontem, no Hospital Abelardo Santos, em Icoaraci, teve de voltar para casa. Apenas casos de urgência e emergência foram atendidos, em função da paralisação dos servidores da saúde, que teve por objetivo pressionar o pagamento da Gratificação de Desempenho Institucional (GDI).

Após uma assembléia realizada às 11h, os servidores decidiram que hoje as unidades de saúde devem voltar a atender. No entanto, caso o repasse não seja efetivado até a próxima quinta-feira, será deflagrado estado de greve. A dona de casa Vanilda Wanzeler, 43, procurou o hospital após enfrentar um martírio em dois centros de atendimento para obter a troca de uma sonda em seu pai, Natanael Paixão, de 84 anos. No Abelardo Santos, enfrentou problemas para entrar. Os manifestantes só liberaram o atendimento quando Ivanilda começou a se desesperar.

“Fiquei desesperada quando disseram que meu pai não seria atendido. Às 6h, fui ao Centro Quatro, na Marambaia, esperei por duas horas para ser informada que o médico tinha faltado. Vim de táxi a Icoaraci com o meu pai, que tem dificuldades de locomoção. Quando cheguei ao Abelardo Santos, por causa do protesto mandaram leva-lo ao Posto de Saúde do bairro. Quando cheguei lá, disseram que nem injeção estavam aplicando, foi quando tive que voltar pela segunda vez ao Abelardo”, relatou Ivanilda, após ter conseguido o atendimento.

Segundo funcionários do Abelardo Santos, apenas casos de urgência e emergência estavam sendo atendidos. “Estamos liberando a entrada de pacientes que precisam de um atendimento mais imediato, como casos de Acidente Vascular Cerebral, paradas cardíacas, pessoas baleadas”, informou o técnico em enfermagem, Carlos Moraes. A paralisação no Abelardo Santos foi feita em conjunto com a dos servidores das UREs, que suspenderam suas atividades porque não receberam a GDI referentes a julho, agosto e setembro.

Os funcionários do Abelardo Santos, além de cobrarem os valores atrasados, reivindicam o recebimento da “gratificação por risco de vida e saúde”, repassado ao trabalhador que realiza atividades que oferecem riscos à integridade física. “A Sespa diz que não realizamos trabalhos de alto risco, mas encontramos relatos de técnicos de enfermagem que contraíram doenças virais, como tuberculose, por ter contato com pessoas doentes”, afirmou a técnica em enfermagem Leni Meira.

Segundo um servidor, que não quis se identificar, a quantidade de funcionários é inferior a demanda de atendimentos. “A superlotação aqui chegou ao ponto de três médicos atenderem a 230 pacientes”. O funcionário também explicou que atendimentos básicos ou procedimentos simples devem ser realizados nos postos de saúde, e não pelo hospital Abelardo Santos. “Aqui chegam pessoas gripadas, com dor de cabeça, febre e outras doenças consideradas básicas, que não são de nossa responsabilidade. Esses pacientes acabam superlotando o hospital porque não conseguem ser atendidas nos postos de saúde”.

RETORNO

Na assembleia também ficou decido o retorno das atividades na maioria das UREs, exceto a URE-DOCA que deve paralisar seu funcionamento na manhã de hoje.

Ontem, também cerca de 60 funcionários do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS – Renascer), da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), cruzaram os braços. Eles resolveram suspender as atividades até que a situação se resolva. O Centro, inaugurado há pouco mais de dois meses, é direcionado ao tratamento de pessoas portadoras de transtorno mental. Hoje, os profissionais irão participar de uma nova assembleia, às 9h, na URE Demétrio Medrado.

A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou que não pagará a GDI aos servidores das UREs porque tal pagamento não seria responsabilidade do Município, e sim do Estado. Segundo a Sesma, não houve qualquer contato da Sespa para tratar do assunto com o órgão municipal. Para a Sesma, nem há motivo para um contato, já que não teria responsabilidade no caso. A Sesma informa que, se for notificada pela Justiça, repassará estas mesmas informações.

CASO VAI PARAR NO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), por sua vez, acusa a Sesma, “que é gestora do SUS em Belém”, de não ter regularizado o pagamento referente aos serviços prestados pelas UREs. ”Pois é com esse recurso que o Governo do Estado paga a Gratificação de Desempenho Institucional (GDI) aos servidores estaduais lotados nas Unidades de Referência Especializada e Hospitais Estaduais, como o Hospital Regional Abelardo Santos”.

Segundo a Sespa, é com esse recurso que o Governo do Estado paga a GDI aos servidores estaduais lotados nas Unidades de Referência Especializada e Hospitais Estaduais, como o Abelardo Santos. O prazo acertado para o pagamento era 6 de dezembro.

“Assim, a Sespa, por meio da Procuradoria Geral do Estado (PGE), entrará com uma ação denunciando o caso ao Ministério Público Federal (MPF), visto que os recursos são repassados pelo Governo Federal, via Ministério da Saúde, diretamente ao município de Belém”.

Sobre o pagamento de risco de vida e realinhamento e inclusão de novos procedimentos feitos pelo hospital, a direção do hospital esclareceu que pediu avaliação do risco de vida à Secretaria de Estado de Administração, a qual concluiu que o que os servidores recebem está de acordo com o risco existente na instituição. (DOL)

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